Políticas Públicas
Publicado em 29/01/2025 - 16h44min
Papagaios Chauás são reintroduzidos na Mata Atlântica alagoana após 40 anos
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Foto: reprodução
Papagaios Chauás são reintroduzidos na Mata Atlântica alagoana após 40 anos
O Plano de Ação Estadual (PAE) para Conservação do Papagaio Chauá teve seu momento mais importante na manhã desta quarta-feira (29): a reintrodução de 20 animais em uma área de Mata Atlântica no município de Coruripe, região Sul do estado.

As aves que agora voltam à natureza em uma quantidade que pode ser facilmente contada já foram abundantes na região. Com o passar do tempo, devido ao desmatamento, à expansão das áreas de agricultura e à ação de caçadores e traficantes de animais, a espécie foi praticamente extinta das matas alagoanas. Os últimos registros na região Sul de Alagoas são da década de 1980.

Agora, por meio do PAE do Papagaio Chauá, uma iniciativa do Ministério Público Estadual (MPAL) com vários outros órgãos, a espécie retorna ao seu habitat natural para cumprir suas funções no ecossistema.

“Em 2017, o MPAL instituiu o Plano de Ação Estadual para Conservação de Espécies Ameaçadas e, dentro dessa medida, criamos posteriormente o PAE do Papagaio Chauá. Hoje é um momento mágico, de efetivação de todos os sonhos. O papagaio retorna para o lugar de onde nunca deveria ter saído. Fica aqui o agradecimento do MPAL a todos os parceiros”, celebrou o promotor de Justiça Alberto Fonseca, titular da 4ª Promotoria de Justiça da Capital (Defesa do Meio Ambiente).

A promotora de Justiça Lavínia Fragoso, da 5ª Promotoria de Justiça da Capital (Recursos Hídricos), emendou dizendo que esse é um momento histórico. “Trata-se de um momento histórico, em que inúmeras instituições num esforço coletivo conseguiram reintroduzir uma espécie extinta na natureza nas matas alagoanas. Importante destacar que tal iniciativa alinha-se com outro projeto do Ministério Publico Alagoano que fomenta a criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPNs, unidades de conservação que servem de áreas de soltura para os animais reintroduzidos. Ações como essa reafirmam nossa convicção de que ainda é possível agir de forma assertiva a fim a conter o processo de degradação ambiental que o planeta vem sofrendo nas últimas décadas”, acrescentou a promotora.

Para o gerente de Sustentabilidade da Usina Coruripe, também parceira do PAE do Papagaio Chauá, Bertholdino Apolônio Teixeira Júnior, a reintrodução do animal foi um fato único e de união de todos em prol do meio ambiente. “Para a gente da Usina, é um grande orgulho reintroduzir um animal que até então não existia mais aqui”, apontou.

Outros parceiros do Programa também demonstraram a importância da reintrodução dos espécimes às matas do Sul de Alagoas. “Estamos nesse pedaço de Mata Atlântica que é o local mais ameaçado do planeta de desaparecer, que são essas matas de Alagoas e Pernambuco. Cada hectare é muito importante. Temos aqui um grande Programa de Refaunação, ou seja, que vai nos permitir trazer de volta várias outras espécies que já desapareceram dessa região. Também virão em outros momentos o Mutum, o Macuco e outros. A fauna será trazida de volta para dentro da floresta. O nosso Programa é de longo prazo. A mata vai voltar a ter barulho, porque as matas hoje são silenciosas devido à ausência de seus habitantes nativos”, detalhou o pesquisador do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, Luiz Fábio Silveira.

Vigilância

Como parte das ações do PAE do Papagaio Chuá, os animais continuarão sendo monitorados, inclusive pela presença da Polícia Militar, por meio do Batalhão de Polícia Ambiental (BPA). “Quem capturar ou caçar esse animal estará cometendo crime ambiental, com pena de 6 meses a um ano de detenção e multa”, salientou o sargento Anderson Goés, do BPA, que também acompanhou a reintrodução nesta quarta-feira (29).

O médico veterinário Rafael Cordeiro, do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL), destacou que esses animais podem promover um equilíbrio ecossistêmico. Por outro lado, ele também lembrou que a população pode denunciar casos de cativeiro ilegal, tráfico e captura por meio do aplicativo IMA Denuncie.

O PAE do Papagaio Chauá é uma parceria entre o Ministério Público Estadual, o Projeto Arca do CEP, o Museu de Zoologia da USP, a Fundação Lymington, o Instituto para o Desenvolvimento Social e Ecológico (IDESE), o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), o Batalhão de Polícia Ambiental (BPA) da Polícia Militar de Alagoas (PM/AL), o Instituto para Preservação da Mata Atlântica (IPMA), a Prefeitura de Coruripe e a Usina Coruripe.

Situação atual em Alagoas

A espécie foi coletada em Alagoas na década de 1950, e era comum no estado. Entretanto, o desmatamento e a captura das aves para o comércio ilegal e local de animais silvestres fez com que o Chauá fosse funcionalmente extinto. As últimas aves foram registradas no mosaico de RPPNs do Niquim, área de mata com aproximadamente 1.000 hectares.

Descrita por Tommaso Salvadori em 1890, estes papagaios medem aproximadamente 40 cm de comprimento total e possuem a plumagem da região cefálica bastante variável, cujo padrão e combinação de cores permite que os indivíduos possam ser reconhecidos individualmente, tal qual uma impressão digital. A base da maxila é vermelha ou avermelhada, o que contrasta com a plumagem da cabeça, que apresenta tons e extensão variável de vermelho, amarelo, verde e azul. O espelho e a cauda apresentam a coloração vermelha, que chama bastante a atenção quando as aves voam. O restante da plumagem é verde, que pode ser claro ou escuro, dependendo da região corporal.

São aves que vivem em bandos e podem ultrapassar os cem indivíduos voando juntos. Costumam se reunir ao fim do dia em dormitórios coletivos, sempre em árvores altas, onde ficam mais protegidas. Apesar de serem observadas em grupos, formam casais bastante coesos.

Habitam preferencialmente florestas primárias, onde encontram alimento e locais para construírem seus ninhos, embora possam explorar também florestas secundárias e até mesmo quintais ou áreas residenciais próximas das florestas onde vivem. Possuem excelente capacidade de voo, percorrendo grandes distâncias.
(Assessoria)
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